Sobre cores e cães

Não, ele não subiu na cama, isso eu não permito. Mas entrou no quarto só um pouquinho. Ele não parava de latir. Deitou-se no tapete e então adormeceu. E eu adormeci ao seu lado, no tapete. Fiquei pequenininha como um brinquedo de plástico, um elefantinho roxo rasgado ao meio em meio as brincadeiras de um cachorro meio criança. Gosto dessa cor, e queria pintá-lo de roxo. Mas ele é preto, teria que descolorir. Não quero mais, dá muito trabalho.

Clarice me faz companhia ao lado do tapete, e o meu cão a lê. Divide-se entre a leitura e o elefantinho, que está bem preso entre as suas patas para não fugir, como se prende alguém que a gente ama. E suas unhas já compridas se enroscam na minha quase pele de borracha, me ferindo aos poucos e suavemente, como se fere alguém que a gente ama.

Meu cão no tapete me lança um olhar de piedade. Pede desculpas por ser somente um cão. E eu o perdôo com uma única condição: quero estar sempre entre suas patas.

Peço desculpas por ser somente humana.

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