Sobre baratas e borboletas

O meu ser renasce a cada minuto e o que fui ontem, hoje não sou mais. Sou o oposto. O oposto de mim, de um eu esquecido no passado de alguns segundos atrás.
E por ser oposto de mim não me deixo ser nada, não me completo. E quando quase me sou, e quando quase me entendo, me transformo. De lagarta a borboleta em apenas alguns segundos. De borboleta a lagarta logo se aprende a voar. E caio. Caio de uma altura enorme, e engulo minhas asas frágeis e transparentes. Sem cor. Uma lagarta-borboleta esfomeada e sem cor.
E logo me transformo outra vez, e vôo. Vôo para bem longe de mim, do que me fui um dia. Vôo para não me saber. É muito doloroso conhecer as próprias fraquezas. E minhas qualidades não são boas o suficiente para que eu possa correr esse risco. As minhas qualidades nunca conseguem se completar, nunca tornam-se concretas. E a cada oposto, uma nova fraqueza. Elas se multiplicam como pragas, como as baratas que ficam no armário da pia. E fazem sexo sob o prato que amanhã usarei para comer. Fazem uma festa. Uma orgia. As fraquezas dançam e cantam e se alimentam de restos. Os restos do que um dia eu fui, porque a essa altura, não sou mais. Sou o oposto. O oposto de mim, de um eu esquecido no passado de alguns segundos atrás. E tudo não passa de uma ilusão.

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