Cotidiano

Eu caí outra vez, e queria que soubessem disso. Afundei-me em mim mesma. Assim, redundante.

Eu caí outra vez, e queria que soubessem disso. Preciso levantar-me. Preciso aprender a permanecer em pé. Mas é que fico bem nas pontas, sabe? E aí desequilibro. Não sou bailarina, sou soldado de chumbo. De um chumbo bem pesado, mais pesado que os outros. Sou um soldado de chumbo que insiste em querer voar, e ficar bem nas pontas, sabe, pra quase voar?

Mas também não sou uma ave, e se for, sou um avestruz. Daqueles de pernas bem compridas que quase tocam o céu, mas nunca tocam. Sou um avestruz.

Sou incapaz de carregar meu próprio peso. Para voar, deveria deixar minha alma para trás, esquecer de mim para me ser. Mas é muito complicado, e tenho muita preguiça.

Tenho muita preguiça, sabe? Daquelas preguiças de deitar na cama e não levantar nunca mais pra nada. E ver o mundo desabar e não estar nem aí. Nem aí, nem em lugar algum.

Não pertenço a lugar algum. A nenhum algum lugar que eu conheça. E os lugares que desconheço não existem para mim. Tenho que largar a minha bagagem, abrir as malas e deixar cair tudo, na frente de todo mundo. Pra todo mundo ficar boquiaberto. Assim talvez possa voar.

Não consigo. A bagagem não está comigo, e sim em mim. Estou dentro da mala, que é pequena demais para me deixar crescer e grande demais para me fazer desistir.

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